Entregar o controle da propriedade rural para os filhos exige planejamento
Renato e Renata Fischer: sucessão ocorre ao natural na Fazenda Santo Antônio
A chegada dos cabelos brancos indica que está chegando a hora de passar para os filhos o controle da propriedade rural, processo que precisa ser planejado para suavizar possíveis conflitos. Apesar de pouco debatida, a sucessão é inevitável nas fazendas, pois os idosos não possuem o mesmo pique dos jovens para produzir alimentos. Para isso, os jovens precisam de incentivo para continuar no campo e serem donos do próprio negócio, ao invés de migrarem para os centros urbanos em busca de trabalho. Afinal, a propriedade rural deve ser considerada uma empresa que precisa gerar emprego, renda e resultado para sobreviver e ser conduzida por outras gerações.
Na Fazenda Santo Antônio, o pecuarista Renato Lopes Fischer, 58 anos, repassa à filha Renata Barboza Fischer, 33, as rédeas com naturalidade, em um processo de sucessão que ainda deve se estender por anos. Não existe pressa e a experiência que Fischer conquistou em décadas de trabalho nas várzeas e coxilhas é dividida todos os dias com Renata, que encara com prazer a lida campeira, cuidando dos cavalos crioulos, ovinos e bovinos.
No caso de Fischer, não existe problemas na sucessão, pois Renata sempre gostou do trabalho na fazenda. “Sou apaixonada por isso. É a minha vida. Eu sempre fui muito incentivada. Eu não consigo me enxergar longe daqui e ser feliz longe. Me sinto enraizada na fazenda”, frisa Renata. Ela chegou a cursar Direito, mas não levou a faculdade adiante. Depois, iniciou o curso de Medicina Veterinária, mas também não concluiu. Morar em outra cidade para estudar acabou afastando Renata da propriedade e, por isso, ela abandonou a sala de aula para voltar ao campo, ao lado dos bichos e da natureza.
Com esta sucessão natural, Fischer destaca que o futuro da propriedade estará em boas mãos. No entanto, ele não pretende abandonar a lida. “Vou diminuir o ritmo de trabalho, mas não me aposentar”, enfatiza Fischer, que aguarda a chegada dos netos para levar mais alegria à fazenda. “Ainda quero ver meus netos crescerem andando a cavalo e fazendo arte nestes campos”, salienta Fischer. Enquanto não chegam os netos, a experiência do pai é uma aliada da vitalidade da filha para tocar a propriedade rural na localidade do Geribá, no distrito do Capané.
Outra filha trabalha no hospital
A filha mais nova do pecuarista Renato Lopes Fischer preferiu não trabalhar na fazenda e decidiu ser enfermeira. Mariele Fischer, 28 anos, mora hoje em Porto Alegre e trabalha como enfermeira auditora no Hospital João Becker, na cidade de Gravataí. “Ela gosta do campo, mas não para trabalhar, apenas para o lazer. Quando pode, ela vem camperear junto com a gente”, observa Fischer.
TRÊS PERGUNTAS PARA
Renata Barboza Fischer, pecuarista
1. O que proporciona mais prazer no trabalho na fazenda?
“Com certeza, é o nascimento dos animais. A gente acompanha desde o nascimento os terneiros, os potrancos e os cordeiros. Ver estes animais nascendo e poder acompanhar o crescimento deles me deixa satisfeita”.
2. O trabalho em conjunto com o pai acaba gerando brigas?
“Muito poucas. A gente sempre conversa bastante antes de adquirir ou vender um animal. Através do diálogo, sempre chegamos a um consenso. Assim, mantemos uma relação harmoniosa e de confiança também com os nossos dois colaboradores”.
3. Existem atividades em que os dois precisam estar juntos?
“Com certeza. Quando ocorre a marcação, castração dos potros e a vacinação do gado, estamos sempre juntos. Este é um trabalho que nos proporciona prazer e a união para estas tarefas é indispensável”.
Potranca por três bolachas
A pecuarista Renata Barboza Fischer, 33 anos, não esconde a alegria ao recordar o “negócio” que fez com o seu avô Elio Fischer quando tinha apenas 6 anos de idade. Fischer tinha uma potranca de pelagem tobiana, que Renata lhe pediu como presente. Para incentivar a neta, Fischer alegou que não daria a égua. Porém, o pecuarista apresentou uma proposta para a menina, aceita na hora. “Ele me pediu três bolachas. Troquei as bolachas pela potranca”, salienta Renata. O método de Fischer é recomendado para ensinar os jovens a valorizar as coisas. Talvez se o avô tivesse dado a potranca de presente, o valor não seria o mesmo.
Fonte: JORNAL DO POVO
http://www.jornaldopovo.com.br/site/noticias_interna.php?intIdConteudo=165760
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