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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Shana Müller quer ser do mundo



por Chico Cougo [@chicocougo]



29 anos e um desafio: ser universal e regional ao mesmo tempo. Esta é a mensagem principal de “Brinco de princesa”, o terceiro álbum da cantora Shana Müller, lançado meio mês atrás pelo selo GM/2 Música (da própria Shana) e pela gravadora gaúcha ACIT. Um disco realmente novo neste mais ou menos estático meio musical sul-rio-grandense. E uma provação na carreira da alegretense.


“Brinco de princesa” é, sob todos os pontos de vista, melhor que os discos anteriores de Shana Müller. Do encarte às melodias, fica explícito o objetivo de dar novos rumos a uma carreira de extremo potencial. Trata-se de um álbum plasticamente caprichado, com um encarte bilíngüe (português e inglês), fotos belíssimas e um texto prefacial onde Müller põe na balança o que fez em duas décadas de trajetória, concluindo que pode mais. Muito mais.


Ousadia não faltou. Os arranjos parecem ter ganhado um capricho raro nas gravações gaúchas atuais, com a participação especial de músicos consagrados, como Marcello Caminha (violão), Michel Dorffman (piano), Luiz Carlos Borges (acordeom) e Texo Cabral (flauta). Além deles, grande destaque também para os músicos que já acompanham Shana Müller há mais tempo: os Paulinhos, Goulart no acordeom, Fagundes no violão (ambos dirigem o álbum); o baixista Edu Martins; e o percussionista Mariano Cantero.


Aliás, falando em percussão, eis o grande “molho” de “Brinco de princesa”. Habilidoso na percussão, Cantero parece ter transformado o álbum de Shana num dos grandes candidatos ao rol dos discos que extrapolam a epidemia de meros chamamés e vaneirões, para se transformar numa peça que pode ser ouvida por qualquer admirador da boa música. É verdade que há uma levada mais jazzista em todo o álbum, mas eis aí uma das grandes inovações trazidas por Müller neste seu terceiro trabalho. “Brinco de princesa” é um disco para ser degustado. Querendo ser do mundo (sintomaticamente a sexta faixa do CD trata exatamente deste tema e arrisca até um trechinho bossanovista), a cantora parece ter finalmente conseguido extrapolar as peias do nativismo. Com temas mais universais e, principalmente, femininos, “Brinco...” traz um repertório muito mais de acordo com a voz e o estilo de Shana Müller.


É verdade que talvez ainda faltem alguns detalhes para que ela atinja um nível de universalidade e originalidade maior. Particularmente, as gravações em espanhol continuam não me seduzindo, assim como sinto falta de um ou outro tema mais antigo, que possa mostrar o lado “pesquisadora” de Müller – continuo em meus devaneios sobre Luiz Menezes ou algum tango entoados pela cantora. Mesmo assim, é notável que Érlon Péricles (principal letrista do álbum) parece ter destinado um repertório mais “de acordo” com a artista, um sinal que fica muito claro pela linguagem mais enxuta e menos carregada de termos reconhecidamente nativistas. Menos “gauchadas”, como diria Carlos Gardel.


Um bom sinal. E um enorme passo para quem quer ser do mundo. Shana Müler está no caminho certo.

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